Quisera eu
esconder-te em meu abrigo
Quisera eu
aquecer-te em tempestade
Quisera eu
consolar-te em ombro amigo
Quisera eu
estrelar-te em dia, majestade
Eu queria
era, em vôos, te levar
Eu queria
era, em brisas, te guiar
Eu queria
era, em marés, te embarcar
Eu queria
era, em poesias, te rimar
Quem me dera
transmutar-me em flor
Quem me dera
Deixar-me seguir, passo a passo
Quem me dera
delirar-me de amor
Quem me dera
encontrar-me em seu abraço
Hoje sentado na cadeira velha na varanda da vida desfilam em minha mente lembranças e desesperanças Sentindo meu coração se apertar, se murchar quando lembro dos meus agora adultos mas antes, minhas crianças Agora sinto-me envelhecer e não ter sabido em meus braços os acolher quando ainda existia a bonança De ter andado de mãos unidas levando-os à escola De tê-los acompanhado às festas juninas ou simplesmente de bola ter brincado De haver-me estado aos seus lados nas suas dores de barriga depois de terem comido sempre escondido doces e caramelados ou simplesmente de tê-los das ruas separados das brigas De haver levado a passear de barco e cuidar de seus enjôos ou de tê-los levado aos parques, aos circos ou aos tranqüilos zôos Não troquei suas fraldas de cacas amareladas olhando em seus olhinhos distraindo-os com chucalhinhos Com eles nunca brinquei de esconde, esconde ou de pular amarelinhas nem tão pouco de bandido e mocinho Nunca os ensinei a subirem nas árvores para buscar a fruta mais madura Não só procurei minha própria vida de trabalho, de egoísmo e de negócios Hoje sentado na velha cadeira na varanda da vida vou pouco a pouco corroendo os ossos me desfazendo vivendo meus remorsos Pergunto a mim mesmo do fundo já deste fraco coração que pode fazer alguém que sempre viveu fora dos trilhos como trazer de volta àqueles olhinhos, os brilhos e de cada filho, o seu perdão